A zona circundante da mítica O2 Academy Brixton em Londres cedo começou a perceber que o dia 17 de Abril de 2025 não seria apenas mais um. A energia começou a acumular-se ainda muito antes das portas abrirem. Desde as 14h – mais de cinco horas antes do início do concerto – que já se formavam longas filas de fãs dedicados, muitos deles vestidos dos pés à cabeça com merchandising da banda e partilhando histórias e expectativas.
Esta base de apoio fervorosa proveniente de muitas partes do globo, tem um espírito de comunidade muito vincado e é, desde os primeiros tempos em que três miúdas mexicanas começaram a colocar videos no seu canal do youtube a fazerem covers de bandas como os Metallica, uma base essencial para o sucesso que têm vindo a alcançar.
E, poder-se-ia esperar que, atendendo às idades das três irmãs que compoem as «The Warning», a fila fosse sobretudo composta por jovens ansiando por ver as suas referências. Puro engano, a verdade é que, nas primeiras horas de fila, a mesma era composta maioritariamente por fãs acima dos 40/50 anos de idade.
A vontade de reviver os tempos áureos do rock encontrou um porto de abrigo na energia e “clean version” do que as «The Warning» fazem em palco e da comunidade e sentido de família que fomentam com a sua postura e participação.
Mas, desengane-se quem ache que apenas esses fizeram com que a Brixton Academy estivesse sold out e com as mais de 5 mil pessoas presentes se pudesse concretizar no concerto com maior assistência fora do méxico das Warning. A verdade é que esta banda quebra barreiras e preconceitos vários desde, serem três miúdas mexicanas a fazerem um som pesado e habitualmente pouco reservado a mulheres até terem na sua base de fãs (comunidade) uma enorme abrangência de idades (de teens a avôs).
Quando «The Warning» subiu ao palco, foi evidente que estávamos perante uma banda perfeitamente oleada. As irmãs Villarreal apresentaram um espetáculo de precisão milimétrica, com transições impecáveis, presença de palco segura e uma entrega vocal e instrumental impressionante. Demonstraram que a experiência e a sua performance ganham imenso no formato ao vivo, em comparação com os videoclipes e música gravada. Daniela mostrou uma voz poderosa, ainda mais impactante ao vivo; Paulina liderou a bateria com autoridade e carisma; e Alejandra manteve o groove firme e cativante. As irmãs Villarreal tocam, como se costuma dizer, de olhos fechados – e com o coração aberto. A cumplicidade e o conhecimento mútuo de muitos anos a fazer música juntas nota-se a cada riff, em cada momento de partilha em palco, ou nos mais suaves sorrisos e entreolhares.
Este concerto, que fechou uma mini tour de quatro datas em salas emblemáticas europeias — com passagem pelo L’Olympia, em Paris, o Palácio Vista Alegre, em Madrid, e o Palladium, em Colónia — não foi apenas mais um.
A ansiedade e expectativa eram muitas por se apresentarem numa sala com tanta história em Londres — e a banda não desiludiu: entregou um espetáculo imaculadamente executado, emocionalmente carregado e visualmente marcante.
Foi a afirmação de uma banda que, dia após dia, demonstra a mais pessoas que o seu potencial de crescimento é enorme, e que, continuam a fazer a música que querem e da forma como querem.
E isso, apesar de se manterem sempre num lugar “novo”, uma vez que o som das Warning é de difícil catalogação. Não fazem apenas rock clássico, não fazem pop, não fazem indie. Fazem — «The Warning»!
De uma “Six Feet Deep” a abrir a noite com violência, até passagens por “S!CK” ou “Escapism”, as irmãs Villarreal foram desfiando o novelo do seu próprio conceito de rock. Destaque natural para as músicas cantadas em espanhol, nomeadamente “Qué Más Quieres” e “Narcisista”, que mostram uma Daniela “na sua casa”, sempre acompanhada pela mestria de Paulina na bateria e por Alejandra — tímida, mas consistente — que sustenta com firmeza a roupagem musical da banda.
Fechar a noite com “Automatic Sun” [(Ooh-ooh) If you want it all, then just take it / ‘Cause you got me, you got me], cantada a plenos pulmões pela multidão, encerrou uma noite notável. Uma noite em que a ligação emocional com o público e a capacidade de transformar cada momento numa celebração e comunhão com todos os presentes tem tudo para transformar esta banda-família num sucesso mundial, a caminhar, paulatinamente, para maiores palcos e multidões.
A noite começou com a energia da guitarrista Sophie Lloyd e da vocalista Marisa Rodriguez (Marisa and the Moths) que ajudaram a aquecer a multidão com os seus riffs pesados e personalidade extrovertida. Um excelente “first act” que teve como momento alto a interpretação de Enter Sandman dos Metallica que foi cantado a plenos pulmões por toda a sala.
fotos @dontmakemeshootyou and @ecletismomusical
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