Hayden Anhedönia (aka Ethel Cain) escreve como quem regressa ao primeiro clarão e percebe que a memória, mais do que um retrato, é um ritual.“Willoughby Tucker, I’ll Always Love You” coloca o primeiro amor no centro da história e usa essa memória como chave para todo o universo Ethel: de onde veio a fragilidade, porque é que a fé e a culpa andam sempre de mãos dadas. É assumidamente um capítulo anterior, pensado como narrativa contínua mais do que coleção de singles, e isso ouve-se na forma como as faixas respiram e conversam entre si.
Musicalmente, é um regresso a uma paleta americana e slowcore, com o folk a dar corpo e um nevoeiro shoegaze a suavizar as arestas. As canções soam orgânicas e próximas, como se estivéssemos dentro da sala: guitarras com textura, pianos com peso emocional, sintetizadores discretos a colar as camadas.
Há momentos mais etéreos, quase cinematográficos, e outros mais diretos, com pulsação pop contida e refrões que chegam sem quebrar a identidade do conjunto. O equilíbrio é o traço mais forte: intimidade e ambição a puxar uma pela outra sem se anular.
Com uma aura que faz lembrar uma Lana Del Rey dark, depois de no passado dia 9 de novembro ter guiado o público do LAV, em Lisboa, por uma experiência emocional e sonora inesquecível, em Junho do próximo ano, o Parque da Cidade, no Porto certamente parará quando Ethel «celebrar a sua missa» no palco no Primavera Sound Porto.
No Comments Yet!
You can be first to comment this post!