Os Hermanos Gutiérrez, que foram um dos melhores concertos do Sziget 2025, apresentam aqui nesta sessão para a KEXP um set de pura arte. Poucas bandas conseguem transformar uma sessão de estúdio num verdadeiro ritual de viagem interior.
A sessão abriu com “Lágrimas Negras / El Fantasma”, quase como um chamamento. As cordas deslizam lentas, carregadas de sombra, e logo se percebe a capacidade do duo em criar narrativa sem palavras.
Seguiu-se “Sonido Cósmico”, faixa que dá nome ao álbum mais recente. Aqui o espaço é protagonista: ecos que se prolongam, reverberações que parecem viajar entre estrelas, enquanto as guitarras se cruzam como constelações em movimento.
Com “Cumbia Lunar”, a cadência muda. A pulsação da cumbia é levada para um território de suspensão, quase dançável mas sempre etérea, como se a festa acontecesse numa praia deserta sob luar.
O fecho, “Until We Meet Again”, é despedida e promessa. As notas soam como cartas não enviadas e percebe-se como esta música encontra força no espaço vazio, no que não é tocado tanto quanto no que é.
O concerto, registado com a habitual excelência técnica da KEXP, reforça uma certeza: Hermanos Gutiérrez não são apenas dois guitarristas a dialogar, mas dois intérpretes de exceção, capazes de transportar plateias inteiras. Do silêncio hipnótico que tomou conta do Palco Revolut no Sziget 2025, onde uma multidão se deixou embalar como se o tempo tivesse parado, até à intimidade desta sessão no estúdio da KEXP, o resultado é sempre o mesmo: um estado coletivo de deleite sonoro raro.
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