Para além do dueto com Rosalía, o final de 2025 deu-nos um álbum extraordinário de Carminho. Aqui, do silêncio, parece sempre nascer uma paisagem de saudade e de clareza. Em Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir, a voz não é apenas instrumento de melancolia ancestral, é testemunha que se reconstrói no acto de cantar, que não se resigna à forma conhecida do Fado, mas a expande, desdobra e reinventa no confronto íntimo com a vida e com o mundo.
O título do álbum já contém a sua pulsação paradoxal: morrer de amor ou resistir. É exactamente essa tensão que atravessa o disco, uma pulsação que não se contenta com absolutos, que aceita a dor sem se render e vê na resistência um modo de existir tão profundo quanto a entrega total.
Desde a faixa de abertura, “Balada do país que dói”, com poema assinado por Ana Hatherly e música da própria Carminho, somos convidados a sentir um país e um tempo que doem, onde o Fado é linguagem que persiste e retorna, que se agarra à voz e à memória.
Não é um álbum de nostalgia confortável, mas um diálogo entre a tradição e a inquietação. Carminho conduz-nos por mais de uma dezena de temas em que se cruzam guitarras portuguesas, texturas inusitadas, arranjos que piscam o olho à eletricidade das emoções modernas, e uma presença vocal íntima como se estivesse a cantar só para nós.
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