Anoushka Shankar chega a esta fase da carreira como alguém que já não precisa de provar nada a ninguém, mas que continua a tocar como se cada nota fosse a primeira oportunidade de dizer quem é. Trinta anos depois de começar a tocar em público, continua a mover-se num lugar muito próprio: a meio caminho entre a tradição e um presente feito de colaborações, cruzamentos, experimentação e vulnerabilidade assumida.
“Daybreak”, faixa de abertura do seu novo EP, aqui na sua versão ao vivo com Alam Khan, a ideia de renascimento ganha um corpo ainda mais nítido. Sem grandes artifícios, sem cenários sobrecarregados, o que vemos é quase só isso: o sitar e o sarod conversam como se partilhassem uma memória comum, uma infância partilhada na mesma casa, ainda que em quartos diferentes. E, de certa forma, partilham mesmo: os sobrenomes Shankar e Khan convocam imediatamente a figura de Ravi Shankar e Ali Akbar Khan, mestres que há muito transformaram estes instrumentos em pontes entre mundos.
Saber que esta peça, tal como o EP de que faz parte, chega nomeada aos Grammys nas categorias de Best Global Music Performance e Best Global Music Album só reforça a sensação de que estamos perante um momento de síntese e, no fundo, um lembrete de que a música pode ser um amanhecer que regressa sempre que precisamos.
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